Relações reais apesar das telas

  • Por Mariane Roldan
  • 28 nov., 2018
A comunicação é fundamental para as relações humanas. Seja pelo meio que for, inclusive levando em consideração a comunicação realizada por pessoas com déficit cognitivo, na audição ou na fala.  

Há quem se comunique apenas com o olhar. É por meio da comunicação que nos expressamos, passamos as informações que desejamos, amamos, brigamos, construímos laços, escolhemos amizades ou companheiros. E não há como pensar em comunicação e não refletir sobre a subjetividade das relações.

A psicologia cuida das relações, desde o nascimento das pessoas, levando em conta a história do indivíduo que é carregada de subjetividade. Por meio da comunicação modificamos nossa vida e história, construímos relações. Uma palavra nova pode modificar nossas memórias, nosso humor, o modo como vemos as coisas. 

Se o modo de as pessoas se comunicarem mudou, a psicologia deve acompanhar essa mudança. Quem nunca se emocionou com uma mensagem que tocasse o coração, ou que evocasse uma memória carregada de emoção, ou ainda quem nunca se irritou com uma escrita em CAPS LOCK ou com uma frase finalizada com vários pontos de interrogação???. As conversas nos grupos de aplicativos de mensagens nos mostram muitas vezes situações como essas, os desentendimentos devido à mal entendidos por frases mal escritas, mal colocadas ou mal compreendidas.  

Onde há comunicação, onde há pessoas, é onde a Psicologia deve estar: acompanhando a evolução do homem para poder continuar a cuidar de suas relações. Não podemos esquecer que por trás das tecnologias há pessoas. Pessoas com sentimentos, sensações, emoções, com histórias e que fazem história. O filme que retrata a vida de Steve Jobs nos mostra que seu desejo era criar algo tecnológico inovador, mas que conectasse as pessoas que estariam por trás das telas. Parece que deu certo?

Mariane Menezes Roldan - Psicóloga.
CRP 06/130169.
Por Mariane Menezes 13 de julho de 2018

O medo pode vir de uma sensação de ter um túnel escuro a atravessar que não nos revela o que há do outro lado. Mas, quando temos uma forte motivação que nos dá a força necessária, o medo ainda pode existir, entretanto, não poderá nos paralisar. Ao chegar ao outro lado, apenas por ter conseguido "atravessar" seus medos, você terá experimentado algo chamado superação.

A cada percurso superado, você terá se presenteado com algo a mais e que ninguém, jamais, poderá lhe tirar: a descoberta de sua própria capacidade para novos enfrentamentos. Esse aprendizado lhe servirá para outras situações da vida que podem, possivelmente, lhe causar novos medos, contudo, você já estará preparado. E isso não é bom?


Por Mariane Menezes 12 de abril de 2018

O preconceito contra pessoas com transtorno mental pode ser fácil de identificar, mas outras vezes nem tanto. Uma situação bastante comum do uso ofensivo dos transtornos mentais é a dos relacionamentos abusivos. Chamar alguém de “louco” ou “bipolar” ou ainda de “psicopata” no meio de uma discussão, são formas de discriminação, abuso e preconceito, quando se usa de condições mentais sérias e às vezes graves com o intuito de diminuir o outro. Muitas vezes, a pessoa ofendida chega a questionar sua própria sanidade, manipulada pelo que se chama de Gaslighting , que é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

No dia 12 de abril é comemorado o dia de combate a Psicofobia, em alusão ao nascimento do artista Chico Anysio, patrono da campanha contra a Psicofobia e do projeto “A sociedade contra o preconceito”.

De acordo com a OMS, a depressão atinge 5,8% da população brasileira (11.548.577). Já distúrbios relacionados à ansiedade afetam 9,3% (18.657.943) das pessoas que vivem no Brasil. Globalmente, mais de 300 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com o transtorno depressivo.

No Brasil a doença de Alzheimer é responsável por 50% a 60% dos casos de demência nas pessoas idosas, de acordo com Gonçalves e Carmo (2012).

A esquizofrenia atinge cerca de 1% da população mundial e a carga genética parece ter um peso importante no desenvolvimento da doença. No Brasil, mais de 2,5 milhões de pessoas apresentam algum transtorno mental grave ligado à esquizofrenia.

A campanha tem como objetivo principal combater o preconceito contra o doente mental e contra o Psiquiatra, além de divulgar o PLS 236/12 que torna a Psicofobia (atitudes preconceituosas e discriminatórias contra os deficientes e os portadores de transtornos mentais) um crime.

A Lei Paulo Delgado Nº 10.216, de 06 de abril de 2001, já dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

"O louco é um excluído que 'nunca poderá se opor ao que o exclui, pois cada um de seus atos se encontra constantemente circunscrito e definido pela doença'." F. Basaglia em “O que é loucura”, de João Frayze-Pereira, 2006.

 

Fontes: ABP, G1, OMS, “Alterações cognitivas na esquizofrenia: consequências funcionais e abordagens terapêuticas”, em: http://www.scielo.br/

Lei Paulo Delgado na íntegra em: https://paulodelgado.com.br/lei-no-10-216-de-6-de-abril-de-2001/

 

Por Fernanda Ribeiro 10 de abril de 2018
Há mais de 400 anos, William Shakespeare tratou da "doença da suspeita" em uma de suas obras mais populares: Otelo, o mouro de Veneza.  A desconfiança de que a mulher mantinha relacionamento com um rapaz mais jovem - despertada e alimentada por insinuações de um subordinado, Iago - levou-o a buscar e a acreditar ter encontrado provas da traição em fatos triviais. O escritor referia-se ao ciúme como "o monstro de olhos verdes", uma metáfora sobre a cegueira induzida pelo sentimento que faz entrever como provável ou certo o que apenas é possível de acontecer.

No relacionamento amoroso, no entanto, é natural sentir ansiedade ao perceber que algo ou alguém pode reduzir o espaço afetivo que ocupamos na vida do parceiro. "O ciúme normal é transitório e se baseia em ameaças e fatos reais . Ele não limita as atividades - nem interfere nelas - de quem sente ou é alvo de ciúme e tende a desaparecer diante das evidências", define a psicóloga Andrea Lorena, pesquisadora de ciúme excessivo do Laboratório (Ambulatório) Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). O ciúme extrapola as fronteiras do saudável quando se torna uma preocupação constante e geralmente infundada, associada a comportamentos inaceitáveis ou extravagantes, motivados pela ansiedade de tirar a limpo a fidelidade do parceiro. "No ciúme excessivo, o medo de perder a pessoa amada vem acompanhado de emoções específicas - raiva, medo, tristeza, ansiedade - e pensamentos irracionais. 'Será que ele está me traindo?' é um pensamento frequente. Quase sempre há prejuízos para quem sente, para quem é alvo e para o relacionamento", diz Andrea.

Não raro os pensamentos irracionais se traduzem em comportamentos compulsivos, sustentados pela ilusão de que é possível controlar o que o parceiro faz ou sente, como verificar agendas, registro de ligações no celular, seguir o parceiro, conseguir senha de acesso ao e-mail, checar faturas de cartão de crédito e fazer visitas-surpresa para confirmar suspeitas. Muitas vezes as preocupações são acompanhadas por sintomas físicos, como sudorese, taquicardia, alterações no apetite e insônia. De acordo com Andrea, uma das características mais comuns da pessoa excessivamente ciumenta é baixa autoestima. "Isto é, ela não acredita que tem valor e merece respeito. A priori é alguém 'traível' e abandonável, pois na verdade acredita que a honestidade e a reciprocidade nas relações não vale a pena. É um sentimento com origem na infância e na relação com os pais, em que provavelmente a pessoa foi negligenciada e desrespeitada. Somam-se ainda fatores como insegurança, medo, instabilidade e a própria desorganização pessoal", diz a psicóloga.

No Brasil, o PRO-AMITI e a Santa Casa do Rio de Janeiro oferecem tratamento gratuito para o ciúme excessivo. A abordagem combina atendimento psicológico, em grupo ou individual, e psiquiátrico. É comum a comorbidade com transtornos de depressão e ansiedade que, se diagnosticados, são tratados com medicamentos. "O processo psicoterápico trabalha a melhora da autoestima e a segurança com o próprio relacionamento. Com o tempo, o paciente percebe que comportamentos como investigar o que o parceiro faz na rede ou vasculhar seus pertences são desnecessários", diz Andrea.

O ciúme excessivo é um traço frequente de outro quadro: o amor patológico (AP), com características semelhantes à dependência química. Ele ocorre quando o comportamento saudável de atenção e cuidado para com o parceiro, característico do amor, começa a ocorrer de maneira repetitiva e frequente. A pessoa se ocupa do outro mais do que gostaria e abandona interesses e atividades que antes valorizava. Segundo a psicóloga Eglacy Sophia, também do PRO-AMITI, ciúme excessivo e amor patológico compreendem medo intenso da perda, baixa autoestima e insegurança emocional. "Muitas vezes os questionamentos sobre a fidelidade do parceiro são calcados em motivos plausíveis. Em geral, uma entrevista cuidadosa com o paciente revela dados sobre o comportamento do parceiro que poderiam causar ciúme em qualquer pessoa, como telefonemas secretos, distanciamento afetivo e físico frequente e confirmação de traições passadas", diz a psicóloga.

Apesar de existirem poucos estudos relacionando o ciúme patológico com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), os pensamentos do ciumento costumam ser similares aos das pessoas que têm o distúrbio: são intrusivos, desagradáveis e incitam atitudes de verificação. "Pacientes que reconhecem seus comportamentos como inadequados ou injustificados apresentam mais sentimentos de culpa e depressão; os demais demonstram raiva e condutas impulsivas mais pronunciadas", diz Eglacy.

Por Fernanda Ribeiro, 2013.
Por Mariane Menezes 22 de fevereiro de 2018
Em 2008, eu estava morando em Seattle e tentando minha mão em encontros on-line. Estava também no meio de um Transtorno Bipolar tipo II. Estava medicado, mas as medicações não pareciam estar funcionando. Eu me percebia frequentemente insensível para com os outros, irritado e deprimido. O Transtorno Bipolar também tem a tendência de fazer com que a pessoa se volte para si mesmo, longe de se preocupar com os outros, apesar de nossas melhores tentativas.

Conheci Abbie* por meio de um website de relacionamentos. Ela foi muito doce e fofa. Nós saímos por alguns meses – saindo para comer, passando a noite no apartamento de um e de outro, conversando sobre músicas, cinema e sobre a vida.


No entanto, comecei a ter dúvidas. Abbie era muito mais afetuosa comigo do que eu com ela. Ela se encaixou e me elogiou sem fim sobre minha inteligência, minha aparência, como eu era cuidadoso e sobre meu senso de humor. Chegou ao ponto que eu comecei a me perguntar se ela estava falando sobre mim ou sobre outra pessoa. Minha autoestima não era alta todo o tempo e era difícil, senão impossível, acreditar nela quando ela dizia tais coisas sobre mim.

Após namorarmos por alguns meses, minhas dúvidas superaram qualquer senso de afeição que eu poderia ter por ela. Somando-se a isso, como uma pessoa bastante organizada, minha irritação aumentou com a confusão e a bagunça no seu apartamento, bem como a desordem em sua vida pessoal.

“Então, precisamos conversar”, eu disse a ela em um tom sério.

“Hum, claro. O que houve?” ela perguntou.
Sua voz reconheceu que o meu tom significava negócios. Sua energia normal foi perdida.

“Eu não estou sentindo como se nós estivéssemos dando certo. Eu gosto de você, mas eu não estou em um lugar onde eu possa estar em um relacionamento. Eu pensei que eu estivesse, mas levou algum tempo para eu perceber que eu não estou. Tenho muitas questões para trabalhar”.


Ela começou a lacrimejar. “Que tipo de questões?”.

“Ah, você sabe. Sou deprimido e ansioso”.

“Eu mão me importo. Estou disposta para estar lá por você quando se sentir desse modo”.

“É, não sei. Eu simplesmente não sinto isso dando certo”. Ela estava chorando nesse momento. Comecei a sentir meu estômago embrulhado. Eu odeio fazer as pessoas chorarem, especialmente as que estou saindo.

“Por que você só está me dizendo isso agora? Você nunca se abriu para mim!”.
Ela estava ficando brava e eu recuei por dentro. Eu não queria um confronto.

Eu queria uma lágrima rápida como curativo - imediatamente - e acabar com aquilo.


“Hum, eu sinto que me abri um pouco para você. Eu partilhei com você algumas coisas pessoais”. Comecei a ficar defensivo. Qualquer senso de empatia ou gentileza que eu tinha dirigido a ela estava se dissolvendo rapidamente.


“Não, eu quero dizer como você está se sentindo como agora. Você nunca me disse o que você estava sentindo”.

“Bom, eu estou dizendo como me sinto agora”. Eu disse, com raiva.

“Não, você não disse. É tão frustrante o quanto você manteve tanto por dentro.


“Eu nunca sei o que você está pensando”. Ela chegou no ponto. Abertura nunca foi o meu forte. Minha terapeuta e diário são bons ouvintes, mas eu fui mais cauteloso ao me abrir para parceiros e amigos. Eu suponho que eu não queria sobrecarregar ninguém com minhas reclamações sobre a vida. Ainda assim, eu senti que eu tinha me aberto com Abbie – mais do que eu tinha me aberto com qualquer um em um longo tempo.

“Eu não sei o que te dizer, Abbie. Eu senti como se eu tivesse me aberto”. Fui petulante e sem cuidado nesse ponto. Eu queria sair.

Conversamos algumas vezes depois disso e comemos juntos uma ou duas vezes, e então cada um seguiu seu caminho. Alguns meses depois, eu mudei por todo o país, mas nunca mais falei com ela novamente.

Recentemente, ao passar por alguns e-mails, eu percebi quanta dor minha irritabilidade e frustração com ela causou. Eu reli algo que tinha esquecido: Abbi cresceu com abuso e sem lar. É possível que ela não tenha tido os melhores exemplos de amor e relacionamentos. Ela experienciou muita ferida e dor em sua infância.

Com relação a gentileza e empatia, eu não fiz um bom trabalho com ela. Minha depressão e mau humor frequentemente fazem eu ser centrado em mim mesmo, um idiota que machuca. Eu posso ser insensível a tudo, exceto sobre minhas questões. Abbie não precisava de alguns meses eu agindo como se eu me importasse, só para depois eu puxar o tapete debaixo dos pés dela. Ela precisava de amor e respeito e apreciação. Eu tentei dar-lhe algo disso, mas eu não era a pessoa certa para fazê-lo.

Eu não sei como eu poderia sair dessa situação sem machucá-la em algum grau. Da minha perspectiva, era inevitável. A retrospectiva me mostra que tudo o que ela procurava era amor, e eu fiz um pobre trabalho de comunicação com ela. Talvez eu tenha mantido muita coisa comigo. Mas eu me sinto muito mal sobre o modo como eu tratei alguém que cresceu sem abrigo e nas mãos de membros familiares abusivos. Poderia ter sido mais sensível de minha parte.

Meu Transtorno Bipolar, então, tem uma tendência para esmagar essa sensibilidade. Causa eu me focar em mim mesmo e aumentar o mau humor quando as coisas não são exatamente como eu quero. É uma das partes menos lisonjeiras da minha personalidade - o que, quando ocorre, me embaraça mais.

*Devido à privacidade o nome foi trocado.

Depoimento original em inglês em:

https://themighty.com/2018/02/embarrassing-part-of-bipolar-disorder-relationship/


Tradução livre.

Por Gustl RosenKranz 9 de janeiro de 2018
Infelizmente, nós seres humanos temos a tendência de empregar termos sem realmente refletir sobre seu significado. E é assim que damos uma conotação positiva ou negativa a determinadas palavras, sem que verifiquemos se essa conotação é adequada ou não. O problema é que palavras nunca são inofensivas, já que as que usamos e escutamos influenciam nossa forma de agir, de pensar e de ver o mundo à nossa volta. Nosso estado de espírito e nossa postura em relação à vida influenciam nosso vocabulário, mas a recíproca é verdadeira: o uso de um vocabulário carregado de palavras “negativas” gera normalmente, mesmo que não se perceba, uma postura igualmente negativa em relação à vida.

Vários estudos sobre o cérebro humano constataram que não somente nossa cabeça influencia nossas atitudes, mas também que nossas atitudes influenciam nossa mente. E isso vale igualmente para as palavras que usamos e torna importantíssimo escolher e empregar conscientemente as palavras que falamos ou escrevemos e filtrar com atenção as palavras que escutamos. Temos que ter cuidado especial porque temos também a tendência de confundir o que é agradável com bom e o que é desagradável com ruim, o que é um equívoco claro. O parto de uma criança, por exemplo, pode ser uma experiência desagradável para a mãe, já que é não raramente acompanhada de dor e muito esforço físico e psíquico. Todavia somos unânimes de que o nascimento de uma criança é uma coisa boa. Bom, nesse exemplo é facilmente perceptível que o desagradável não tem que ser necessariamente ruim, mas isso nem sempre é fácil de se reconhecer em inúmeras situações cotidianas, fazendo com que alimentemos diariamente essa confusão terminológica, trocando as bolas e atribuindo uma conotação negativa a algo bom só por ser desagradável, como é o caso da DECEPÇÃO.

É natural que fiquemos tristes, frustrados, desapontados ou até irados quando somos decepcionados… Sofrer uma decepção é uma experiência desagradável, às vezes até extremamente dolorosa, principalmente quando nos decepcionamos com alguém próximo, com quem temos uma relação mais estreita. Mas a decepção é uma coisa ruim? Não, não é. Pelo contrário: decepcionar-se é uma coisa boa, importante para o amadurecimento humano, já que se decepcionar significa perder a ilusão em relação alguém ou alguma coisa, quando algo inesperado destrói nossas expectativas. A palavra “DECEPÇÃO” vem do latim deceptio , que significa engano ou dolo. Ou seja, quando decepcionamos alguém, o enganamos, quando nos decepcionamos, fomos enganados ou enganamos a nós mesmos. Agora responda: não é bom se livrar de um engano, de uma ilusão, de uma farsa, de algo que achávamos que era de uma forma, mas que na verdade sempre foi diferente?

A intensidade de uma decepção depende de dois fatores: do tamanho das expectativas e do tempo que durou o engano, a ilusão. Portanto, quanto menos se espera e quanto menos demorar o engano, menor o sofrimento. E vale o contrário: se você não aprender a domar suas expectativas, deixando-as crescer cada vez mais, você só alimentará a ilusão, prolongando-a e aumentando o sofrimento na hora que você perceber que estava sendo enganado (talvez por você mesmo?).
Imagine, por exemplo, você indo para uma festa. É claro que você espera que a festa seja boa, senão você nem iria. Se a festa no final não for lá essas coisas, talvez você fique um pouco decepcionado. Mas se você for além disso, indo à festa com a expectativa de que será a melhor festa de toda sua vida, talvez a melhor festa do mundo, a decepção aqui pré-programada será bem maior, já que o tamanho da decepção está diretamente ligado ao tanto que você espera.

Uma pessoa decepcionada reage de acordo com o princípio “fui enganada!”, mas normalmente a “culpa” nem é (somente) do outro. Nós é que insistimos em ver algo como queremos ver, criando nossa própria realidade de forma conveniente para nós. Um bom exemplo é quando nos apaixonamos e vemos tudo de forma colorida, sem questionar e sem ver as coisas como são, projetando no outro aquilo que queremos e confundindo a ilusão da paixão com a realidade. Quando a paixão passa e vemos quem o outro é de verdade, ficamos decepcionados e nos sentimos enganados, o que é legítimo e compreensível, mas é importante se perguntar: enganado por quem? Pelo outro ou por nós mesmos? É importante entender que você mesmo é responsável pelas decepções que você vive. É claro que há pessoas dissimuladas, que fingem ser algo que não são, enganando de propósito, mas também aqui vale: essas pessoas só irão lhe enganar se você permitir. Não podemos responsabilizar outras pessoas por nossa ingenuidade e nossas falsas expectativas.

Creio que uma decepção nunca vem de surpresa. Ela vai se manifestando já com antecedência, os sinais são claros, mas nós, por preferimos sempre o caminho mais fácil e evitarmos quase patologicamente o que é desagradável, ignoramos esses sinais, alimentando a ilusão e aumentando a altura do tombo na hora da percepção da realidade como ela é. Uma pessoa não decepciona uma outra da noite para o dia. Normalmente seu comportamento já mostra cedo que ela não é bem assim como acreditamos, mas nós nos negamos a reconhecer isso, pois é bem mais confortável crer que as coisas são como nós gostaríamos que fossem. E é assim com aquele “bom” amigo ou aquela “boa” amiga, que de repente nos mostra que a amizade não era tão forte assim, ou pior ainda: que falta profundamente com o respeito, que nos machuca, que nos faz sofrer, que nos decepciona… Como estávamos iludidos e aparentemente felizes e satisfeitos com essa ilusão, acreditamos que o comportamento questionável dessa pessoa veio de repente e que a amizade acabou de uma hora para outra, mas isso não é correto, já que ninguém muda seu comportamento ou sua postura da noite para o dia e uma amizade que termina de uma hora para outra na verdade nunca existiu.

Antigamente, eu sofria quando alguém me decepcionava (= não correspondia às minhas expectativas, não agia da forma que eu esperava), até que um dia percebi o equívoco que causava esse sofrimento: a definição errônea de decepção como algo ruim por ser desagradável. Desde que sei disso, procuro esperar o mínimo possível das pessoas e dos acontecimentos em minha vida, tento ver as pessoas e as coisas como elas realmente são e procuro não alimentar ilusões. Hoje em dia, quando, por exemplo, um amigo me decepciona fortemente, tenho consciência de que isso apenas ocorreu devido às minhas expectativas altas (repetindo: quanto mais altas as expectativas, maior a decepção!) e porque não vi a coisa como realmente era.

Fico feliz de ter percebido o engano (quanto mais cedo melhor!) e procuro corrigir a minha visão, me libertando de uma ilusão que, no fundo, não me fazia bem. Cresço com isso, procurando não guardar mágoas, já que no fundo sou grato por ter tido a chance de perceber que a realidade era bem diferente daquilo que eu acreditava ou queria acreditar, tendo consciência de ser eu mesmo responsável pelas minhas expectativas. Isso liberta, isso purifica as relações e isso é uma coisa boa!

Portanto, sempre que você sofrer uma decepção, permita-se sentir dor e tristeza, aceite a frustração, mas não deixe de ver o outro lado da moeda: o lado da desilusão, do desencantamento, do fim do engano, da retomada da realidade. A sobriedade disso resultante, por mais desagradável que seja, irá lhe fazer crescer, irá lhe libertar de devaneios, de enganos dos sentidos ou da mente e lhe permitirá compreender que a realidade, mesmo que amarga, é sempre melhor que qualquer doce ilusão.

http://gustl-rosenkranz.de/

Foto de Caroline Menezes Roldan, Santos-SP. 
Por Mariane Menezes 19 de novembro de 2017
Lançamento de mais um livro do jovem autor Alma Cervantes, autor do excelente romance policial Se Arrependimento Matasse, Editora Novo Século, 2013, cujo final é surpreendente!

Alma Cervantes publicou seu primeiro livro com apenas 19 anos de idade e hoje é um jovem de 24 anos. Alma Cervantes é admirador da Língua Portuguesa desde a infância, grande fã de Agatha Christie e que desenvolve com detalhes personalidades e perfis dos personagens com sensibilidade, seguindo para o gênero de aventura fantástica com a saga Mestiços, que nos leva à uma incrível viagem, nos faz criar vínculos com os personagens e tem uma escrita envolvente.

O autor nos presenteou com uma noite de lançamento dia 02 de junho de 2017 na livraria Realejo, em Santos-SP, na avenida Marechal Deodoro, 02, no bairro do Gonzaga; e este é apenas o primeiro livro de uma trilogia diferente de tudo o que já foi lido. 

“No fundo, ele esperava, como acontecera com Ekaterina, outro comentário de deboche em reação à sua confissão. Todavia, surpreendentemente não foi o que aconteceu.

- É o que muitos dos que vivem Pontos de Encontro pensam – disse a mulher – e, ironicamente, não é tão diferente da realidade.

- Espere – interrompeu Reis, confuso. – Então somos nós...- Não, são lobisomens. – A pronúncia a seguir foi forte carregada de orgulho:

- Mestiços. Nós somos Mestiços.”.

Não deixe de ler!

Mestiços: A Comunidade dos Lobos Solidários. Alma Cervantes. 337 páginas, 2016.

Por Mariane Menezes 29 de setembro de 2017
Qual o papel dos instrumentos psicológicos na escolha profissional e como eles ajudam no autoconhecimento?

Os testes psicológicos, que são de uso exclusivo do(a) psicólogo(a), são importantes instrumentos reconhecidos cientificamente que ajudam no trabalho de orientação profissional e que servem para vários fins.

Alguns dos testes psicológicos usados para a orientação vocacional/profissional (individual ou em grupo), são os de personalidade, os de interesses profissionais, os que avaliam o nível de maturidade para a escolha da profissão, entre outros aspectos do indivíduo.

Os testes não têm como objetivo mostrar características do avaliado de forma imutável, pois o ser humano está permanentemente em desenvolvimento. Deste modo, os testes indicam como a pessoa está por ocasião da realização destes testes; e servem para avaliar seus aspectos pessoais quando não há “notas”, respostas certas ou erradas ou ainda aprovação ou reprovação.

Entretanto, os testes não são as únicas técnicas existentes para a Orientação Profissional. Assim, é muito importante que os testes psicológicos sejam utilizados como um complemento do trabalho, para ajudar o profissional a compreender o cliente como um todo. Deste modo, outras técnicas também são utilizadas em orientação profissional como: as entrevistas, as dinâmicas (quando em grupo), a utilização de jogos e a realização de pesquisas (sobre profissões, instituições de ensino, mercado de trabalho, áreas de trabalho dentro de uma mesma profissão, remuneração e ambiente de trabalho, por exemplo). Além disso, é fundamental que o avaliado conheça seus aspectos internos, suas características pessoais, suas motivações e interesses, seus potenciais e habilidades.

Alguns teóricos psicanalistas, como Bohoslavsky (1998), propõem a modalidade clínica de O.P. tendo como base a teoria psicanalítica. Bohoslavsky aponta ainda a importância das identificações pessoais e do processo de constituição da identidade vocacional-ocupacional, que se relaciona diretamente ao processo de identidade pessoal. Quanto mais a fundo se for nas projeções e necessidades inconscientes do cliente, mais completa se dará a orientação profissional. Muitas vezes o orientando conhece seus interesses, mas não sua raiz, pois a escolha profissional é fruto de motivos conscientes e inconscientes e pode estar cercada de fantasias.

Um artigo publicado na revista Mente & Cérebro de agosto de 2010, "Não fui eu, foi meu cérebro!", de Caio Margarido Moreira, cita uma publicação de maio de 2008 da revista Nature Neuroscience : "O pesquisador Chun Siong Soon e seus colegas de institutos alemães e belgas [...], encontraram evidências que nossas decisões podem ser traduzidas em atividade cerebral até dez segundos antes de se tornarem conscientes [...]. Soon e seus colegas propuseram que, apesar de termos a impressão de que somos livres para fazer nossas escolhas [...], os dados indicam que a experiência subjetiva de liberdade é apenas ilusória, e que nossas ações são, na verdade, realizadas por processos inconscientes muito antes de tomarmos consciência de nossos atos".

É importante lembrar que a Orientação Profissional não é apenas direcionada para adolescentes em sua primeira escolha profissional, mas também pode ser direcionada para adultos em mudança de carreira e até mesmo preparar para a aposentadoria.

Por fim, é fundamental que haja o envolvimento do orientando em todo o processo, para mobilizar a sua capacidade de escolha autônoma. (NEIVA, 2013).

Mariane Menezes Roldan - Psicóloga
CRP 06/130169